A Tanajura do Pedaço

     Era a tanajura do pedaço, não tinha prá ninguém.  O seu derrière atraia os olhares masculinos cobiçosos e os comentários desdenhosos das invejosas de plantão.
     Devido ao assédio constante na juventude gabava-se da sua beleza sem se dar conta de que o interesse geral era localizado em um ponto específico da sua anatomia.
     Decorridos muitos anos, uma coleção de namorados, dois casamentos desfeitos, os efeitos da gravidade atuando no corpo, notadamente naquela área que foi motivo do seu sucesso de outrora, ali estava ela, esparramada no sofá da sala com um pote de pipoca no colo assistindo ao desfile de carnaval, um evidente espetáculo de belos corpos femininos seminus, de sinuosas silhuetas, procurando as câmeras de TV em busca do sucesso, mesmo que efêmero, pensando em virar "celebridade".
     Ao seu lado, o atual companheiro se deliciava com a anatomia das mulheres, elogiando, dissimuladamente, a evolução das escolas de samba a fim de disfarçar seu real interesse.
     Em surdo gemido, ela levantou-se com dificuldade apoiando-se em um dos braços do sofá.  Aproximando-se da TV, fixando o olhar bem perto da tela, resmungou algo, talvez um palavrão.  Aprumando o corpo e com ar vanglorioso, saiu a dizer, em voz alta:
     - No meu tempo não tinha botox, nem silicone, era tudo natural!



Autor do texto: Paulo Nascimento
Imagem extraída do Google Image

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Até as águias precisam de um empurrão

Dia Mundial do Rádio

Alma Verdadeira