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Mostrando postagens com o rótulo Poemas de Lucia Andrade

O povo e o polvo

A série de protestos no nosso país nos últimos dias me levou a refletir sobre o que isso representa.  Neste momento, um cuidado necessário: diferenciar o que é reivindicação justa do que é baderna ou crime.  A falta de atitude diária ao longo desses tempos, onde ações simples no cotidiano poderiam fazer a diferença, levaram ao acúmulo de necessidades não satisfeitas que explodiram de repente, como se de repente tivessem surgido.  Ao mesmo tempo, no dia de hoje, assisto a propaganda de um partido onde fica clara a proposta de incitação ao movimento de massas, aproveitando o momento, como aliás todos os partidos atualmente fazem no Brasil.  Não representam nada e se aproveitam de tudo! Achei um dos poemas da minha prima Lucia Andrade que eu ainda não havia publicado no blog e descobri a semelhança com o que a anestesia geral propicia os acontecimentos atuais, guardados os exageros.   Autor do texto: Paulo Nascimento O povo e o polvo Olho...

Lidomeiro

Árvore seca frutifica! Fruto com cheiro de flor, Com gosto de maçã, Olhinho de jabuticaba. Com cabelos soltos como a folha, E a mãozinha leve como pena de ave. Que a voz sussurre como o vento, Doce como o mel, Mas que tenha a força do trovão Saindo da boca de uva rosada. Árvore seca frutifica! Redentora, renovadora, Como a raiz da liberdade. Autora do texto: Lucia Andrade Curiosidade: Perguntei à minha prima Lucia Andrade o que era um lidomeiro e ela me lembrou o nome do seu filho: Lidom.  Não precisa mais explicações.

Um copo de vida

Uma urgência de viver, Inexplicável pressa desesperada, Fome de querer fazer. Comportamento difícil de entender Que assusta, afugenta, Em um quase enlouquecer. Tenta nas mãos segurar, deter O tempo que corre depressa. Quero um copo de vida pra beber. Recusa selvagem em partir. Ainda não vi tudo, Muito está por vir. Do fim não se pode fugir. Todos têm a sua hora, Faça sua oração, seu caminho vai seguir. Não adianta tentar adiar, Sua missão já se cumpriu. Agora resta aceitar. Por fim, resignada, ela partiu. Autora do texto: Lucia Andrade

Jamais busquei você

Queria muitas coisas, Me preocupava com o ter. Não te conhecia, Jamais busquei você. Andava sempre ocupado Querendo enriquecer, Exibir minhas conquistas. Nunca busquei você. Minhas posses aumentavam. Uma família criei. Virei cidadão respeitável Mas você jamais busquei. O ter foi sempre importante. Ignorava o Ser. Tinha orgulho do meu império. E nunca busquei você. Ouvia muitos falarem Do que os inundava o ser. Achava tudo bobagem. Pra quê buscar você? No meu mundo muito sólido Tudo começou a ruir. E o sofrimento eu descobri. Me negava a buscar você. Quando perdi tudo o que tinha, Incluindo o orgulho. Vi que sabia chorar, Que podia buscar você. E ao me pôr de joelhos Sem nada mais ter, Descobri quem era o Ser, Dentro de mim, meu Deus, Eu encontrei você. Autora do texto: Lucia Andrade

Chuchu na serra

Escolheu a mais gostosinha Com grau de escrúpulo zero. Tentou botar na linha Dançou um belo bolero. Levou uns chifres na bagagem O filho de outro tornou-se seu. Ela adora uma viagem Com o dinheiro que você deu. Vê se te manca, Mané Para de bancar o otário. Fica remando contra a maré Vai revistar teu armário. Quando ela tá em casa Tá sempre com dor de cabeça. Toma um chá de simancol Antes que o chifre apareça. Entrega pro Ricardão Deixa ele amargar o prejuízo. Até o cara que entrega o pão Se mandou, tem mais juízo. Foi julgar pela aparência E pegou o maior bagulho. Agora chega de demência E entrega em um embrulho. Ao primeiro que passar Ofereça como um diamante, E se o otário levar Seja mais esperto doravante. Mulher de vitrine é manequim Escolha uma de carne e osso. Se ainda escolher mal assim Vai afundar até o pescoço. Bonitinha sem caráter Fuja como o diabo da cruz. Porque se deixar se enganar Aí, meu filho, nem Jesus. Autora do texto: Lucia Andra...

A casa mais bela

Dei a você a casa mais bela, O lugar mais bonito. Flores na janela, Frutas no pomar, Água fresca em cascata, Mas dela não consegue cuidar. Mata-se a si mesmo, Destrói teu próprio lar. Tuas mãos têm espinho, Tudo há de te faltar. Vai dizer que sou injusto. Que fiz para te punir, Mas não fui eu o causador. Você mesmo se priva Das maravilhas que te dei. Do oceano que te banhava, Do sol que te aquecia, Da lua que te embalava, E de mim que era seu guia. A minha imagem pode ter Mas não se assemelha a mim. Eu jamais destruiria O que me dá vida, O que me alimenta, No corpo e no espírito. Renega o teu Pai, Renega seus irmãos, Queima o seu paraíso. O que pretende colher? Ainda pode mudar seu futuro Se do seu planeta cuidar. Aprenda a semear a vida, Pelas espécies comece a zelar, E lembre-se, meu filho, Do seu lado estarei Sempre que meu nome chamar. Autora do texto: Lucia Andrade

A arte é livre

Não tente me ditar o ritmo da música. Eu sou o artista, A obra é minha, Dou-lhe a entonação que quiser. Pode ser hard, soft, metal, No estilo que couber, Ou que minha inspiração me der. Existem sete notas musicais Que para mim São sete vezes setecentos, Ou quantas meu violão deixar. Todas que a minha voz Ousar cantar. Outras mais que eu puder imaginar. Nas partituras do meu vício De musicar A vida, O passado Ou o futuro que virá. Um artista não se prende à lógica, Desconhece o impossível, Mecanismo de bitolar. Ele dá vida à arte, Canta o que quer cantar. Tem na alma a versatilidade De ouvir o que o som Quer lhe falar. Autora do texto: Lucia Andrade

Incólume

Quisera eu guardar-te novamente Em meu ventre, Casulo seguro, Redoma perfeita. Quisera eu proteger você Desse mundo cão. Entendo agora a dor do parto. É a dor de ter de dar ao mundo Nossa carne, Pedaço do nosso corpo, Nossa própria alma. É a dor de não poder guardar Dentro de si O tesouro mais precioso, Depois de ter gerado. A dor de carregar dois corações. E sentir para sempre As alegrias, As tristezas, As descobertas, Do seu e do outro Que já não é mais seu. Dois corpos em um só corpo E ter de entregar um deles À sorte. Quisera eu que voltasse Pra dentro de mim. E ali ficasse escondido, Incólume, Só meu. Autora do texto: Lucia Andrade

Caminhos tortuosos

Nem sempre o caminho certo É o mais fácil. Quase nunca é. É difícil tomar as decisões corretas. Ser correto é difícil. Parece que você é o errado Quando quer fazer o certo. Geralmente é doloroso, Quase sempre é, Fazer o mais acertado. Escolher não o meio certo, Ou o meio errado, Mas o correto, De verdade. Que nem sempre é o caminho reto, Quase nunca é. Geralmente o caminho tortuoso É o correto. E o reto, É o errado. Mas se você consegue, Ao final da sua luta interna, Seguir o melhor caminho, O certo, Continue por ele, Persevere nele, Acredite nele. Na reta de chegada, Quando olhar para trás, Terá a certeza De que fez A escolha certa Indo ao encontro de Deus. Autora do texto: Lucia Andrade