O inusitado final do ano de 1976

 Final de ano, 1976... Naquela época, o último dia do ano tinha meio expediente e, por tradição, havia a chuva de papel picado, originada de documentos inservíveis devidamente rasgados ou de sobras, como confetes, produzidas pelos perfuradores de papel.

Eu trabalhava em uma empresa localizada na avenida Rio Branco, no Centro da cidade do Rio de Janeiro.

Durante a comemoração — janelas abertas no quadragésimo andar — apareceu, do nada, um paraquedas confeccionado com um saco de lixo azul, barbantes e, no lugar de um boneco, um objeto fálico feito de madeira. Sim, isso mesmo! O autor da façanha era o "faz-tudo" da empresa (eletricista, encanador, marceneiro, etc.).

Um dos nossos colegas, com uma destreza singular, conseguiu arremessá-lo. Ao sabor do vento, o paraquedas começou a pairar sobre a avenida. No prédio em frente funcionava um banco famoso, que ainda existe. Vimos, morrendo de rir, uns caras chamando suas colegas para observarem o estranho objeto voador. Algumas mulheres taparam os olhos, enquanto outros se divertiam com o fato inusitado em meio às comemorações.

Era hábito, ao final do meio expediente, nos reunirmos em algum bar antes de irmos para casa, despedindo-nos do ano velho com a expectativa e os desejos de um ano novo melhor.

Essa tradição do papel picado se perdeu com o aumento da consciência ambiental e, como o dia 31 de dezembro foi incorporado ao feriado, essa comemoração agora é apenas uma saudade que guardo na memória.


Autor do texto: Paulo Nascimento


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