Trapaça ou lição?

Em uma das empresas onde trabalhei, durante o intervalo para o almoço, tínhamos o costume de jogar sueca, um jogo de cartas bastante popular. Não havia nada em aposta; era apenas entretenimento. Às vezes, alguns mais competitivos não se conformavam com certas derrotas, mas nada de mais acontecia.

Em uma dessas ocasiões, eu estava jogando com um parceiro contra dois colegas, sendo que um deles era daqueles sujeitos metidos a esperto, sempre se vangloriando de suas vitórias. Ocorre que, ao final da partida, aconteceu a contagem de cartas para determinar a dupla vencedora. Eu, que tinha por hábito contar minhas cartas mentalmente e de forma rápida, observei que tínhamos perdido por dois pontos de diferença, mas aguardei a contagem do meu adversário, que contava alto e devagar, afirmando que haviam ganhado.

Ao final, decepcionado, ele disse que tínhamos empatado, mas, como sempre fui um bom observador, notei que uma das cartas – um rei que valia quatro pontos – ele havia atribuído o valor de dois pontos, obviamente um ato falho. Como com um "esperto" deve-se responder com artimanhas, eu disse que iria recontar minhas cartas, pois tinha a impressão de que a vitória teria sido nossa, em vez do empate declarado por ele. Isso lhe dava, claramente, uma chance para corrigir seu erro.

Contei minhas cartas à minha maneira, e, no meu silêncio, confirmei a nossa derrota. No entanto, aguardei o desfecho da conferência do colega e, novamente, ele errou a contagem. Pela regra, haveria uma nova partida. Rapidamente, juntei todas as cartas, jogamos novamente, vencemos e eles se levantaram da mesa para dar lugar a outra dupla.

Ao final de tudo, como ele ainda continuava com aquela pose de vencedor – cuja derrota é obra do acaso – falei a ele sobre o que havia feito. Sua resposta foi que eu tinha trapaceado. Retrucando, disse que, se ele fosse mais observador e menos falastrão, não teria me dado a oportunidade de enganá-lo.

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